Festejando o ensino de São João
*Wagner Dias Ferreira
Chegou Junho. Momento de festa e alegria. Que pode ser aproveitado para uma reflexão e para o aperfeiçoamento da coerência entre discurso e atitude. Recentemente, um canal de TV iniciou a transmissão de uma novela com uma história ficcional abordando a saga dos inconfidentes de Minas.
Já no primeiro episódio é mostrada a cena do enforcamento de Tiradentes. Uma voz que foi colocada só, mas que ressoa até hoje porque chancelou suas palavras com a própria vida.
No mês de junho, a cultura brasileira comemora com muita festa e alegria o Santo Antônio (13 de junho), o São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho). A festa em todo este período de junho é absorvida no nome de um único santo o São João. Em Caruaru/PE e Campina Grande/PB, que disputam pelo “maior São João do Mundo” e por todo o sertão nordestino, a festa do mês inteiro é chamada apenas de São João.
João Batista, o homem que originou o santo da Festa de 24 de junho, era uma voz que foi colocada só, no deserto, à semelhança de um caniço agitado pelo vento.
Tem ainda o som de sua voz até hoje confrontando as pessoas. Muitos somente pensam que ele ao longo de sua vida denunciou os abusos do rei Herodes, o que levou à sua decaptação.
Mas João Batista também denunciou os comportamentos de pessoas comuns. No Livro do Evangelho de Lucas, há breves mas significativos registros sobre os ensinamentos de João Batista.
Onde ele denuncia atos de pessoas comuns que precisam ser modificados. Num dos poucos tópicos registrados em Lucas se pode ler: “E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.” (Lucas 3, 14). Vemos aí um ensino para o cotidiano que remete ao campo do direito onde ao falar a agentes de segurança pública traz o discurso da coerência e da honestidade que no atual dia a dia comum do povo brasileiro está tão caro, considerando “Lava Jato” e outros procedimentos polêmicos que temos vivido no campo da democracia brasileira.
Por isso, no mês de junho, festejar São João é muito bom. Mas refletir sobre seu ensino é melhor. Parar, pensar em atos comuns do dia a dia e tomar decisões que permitam direcionar a vida sempre melhorando o ambiente em que vivemos é imprescindível.
Muitos de nós, pessoas comuns, ao proclamarmos as palavras de melhoria do ambiente à nossa volta, denunciando os comportamentos inadequados daqueles que estão em derredor seremos constrangidos e sofreremos consequências em tentativas de calar, mas podemos e devemos como Tiradentes e João Batista insistir em falar.
Estas palavras que nós pessoas comuns podemos e devemos falar no dia a dia, para que aquilo que ocorre irregularmente perto de nós não passe sem denúncia. Isso pode não ressoar na história com a força de palavras de Tiradentes e João Batista, exigindo a chancela de uma vida.
Mas certamente irá ressoar no cotidiano exigindo a chancela de uma atitude coerente com o discurso.
Festejemos o São João, lembremos o Tiradentes e sejamos coerentes.
*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG