O banho cheiroso do reclamante vitorioso
Saiu no espaço vital de 16 de agosto de 2011 o texto que segue, que é engraçado, triste e mais comum do que parece e é por coisas como esta que nunca saco e nem repasso valores em dinheiro para os meus clientes. Já tive casos em que fiz o cliente abrir uma conta poupança para depositar o dinheiro e depois com calma dar um rumo para ele.
Abraço e boa leitura
(16.08.11)
Charge de Gerson Kauer |
Esta aconteceu na Zona Sul do Estado. Trabalhador de um pequeno município das redondezas, ingressou com reclamatória na 1ª Vara do Trabalho de Pelotas, requerendo direitos referentes a dez anos de trabalhos remunerados com "perna de anão". Foi vitorioso na sentença, houve recursos do reclamado até o TRT e o TST, protelando o desfecho por sete anos. Até que, na execução, foram depositados os valores, algo próximo dos R$ 15 mil.
O advogado do reclamante recebeu o alvará, mandou correspondência para seu cliente informando, e marcou data para entrega dos valores, já descontados os justos honorários.
- "Gostaria de receber em dinheiro e não em cheque, porque não tenho conta bancária" - pediu o reclamante, por telefone.
No dia marcado, 11 e meia da manhã, foi feita a entrega do dinheiro com a recomendação de que o cliente se cuidasse e fizesse bom uso do justo valor que recebera. Depois de muitos agradecimentos, o homem saiu para usufruir do seu ganho, não sem antes mostrar ao advogado que distribuíra o dinheiro em quatro bolsos e numa carteira-capanga.
Saiu dali e foi comemorar almoçando num dos bem freqüentados restaurantes da cidade.
Por volta das 15h. do mesmo dia, o trabalhador muito assustado, vestindo outra roupa (precária - dava para perceber) retornou ao escritório do procurador, e nervosamente falou:
- Doutor, fui roubado! Levaram todo meu dinheiro.
O advogado pediu que o cliente se acalmasse e contasse o que acontecera.
- Pois é, doutor, depois que recebi o dinheiro, fui almoçar e, na hora de pagar a conta, tirei o maço de dinheiro que estava num dos bolsos e paguei no caixa. Quando eu estava saindo veio uma moça bonita. Disse que achava que me conhecia. Falou que me achava simpático e que ela estava muito carente. E me convidou para ir em um hotel perto, pra gente conversar mais intimamente.
O advogado ficou embasbacado e fez cara de pena. O cliente puxou fôlego e continuou o relato:
- Logo que chegamos no quarto, demos uns amassos, eu comecei a ficar suado. A moça pediu que eu tirasse a roupa e falou para que eu fosse no banheiro tomar uma ducha. Disse que eu caprichasse no banho e voltasse bem cheiroso pra ela. Chegou a me dar um vidrinho de perfume, que tirou da bolsa.
Nesse ponto, o relato é interrompido por choro. A secretária traz um copo d´água e ajuda o cliente para prosseguir.
- E daí, o que aconteceu depois? - questiona o advogado.
- Tomei ´aquele banho´, abri a porta e no quarto não ´tavam´ nem a moça, nem minhas roupas e nem meu dinheiro. Ela chegou a levar os meus sapatos e me deixou só as meias. Chamei o pessoal do hotel, contei o caso, ficaram com pena de mim e conseguiram estas peças usadas para que eu viesse até aqui.
Pediu, então, ao advogado, apenas o dinheiro da passagem para voltar à sua terra. O profissional condoído acedeu e ainda acompanhou o cliente a uma loja, onde lhe comprou dignas e novas peças de roupa.
Visivelmente constrangido o homem agradeceu, foi embora, e nunca mais voltou.
* * * * *
O advogado conta que, até hoje, tem uma dúvida: o que o seu cliente terá dito para a esposa?
Nos anais do escritório de Advocacia ficou uma história: o caso do reclamante duplamente pelado - sem roupa e sem grana.