Racismo, onde estamos ? Para onde vamos?

A história da humanidade é também a história do pré-conceito em suas mais variadas formas, sobretudo do pré-conceito racial. Dada as nossas peculiaridades de formação econômica, histórica, sócio-cultural e geográfica coube também a nós como nação; amalgamarmos, calcarmos e fomentar-mos em nossa sociedade certo tipo e padrão de racismo, não apenas distinto e diferente da maioria dos países como também bem mais difícil de ser combatido visto ser o mesmo exercitado por todas as camadas sociais, só que de uma forma velada, posto que aqui, não falamos claramente e muito menos agimos sem subterfúgios quando das nossas pretensas ações na construção daquilo que supostamente denominamos de  “democracia racial” .

Quando da relação e do contato com os negros sempre de alguma maneira engendramos uma forma disfarçada de pré-conceito racial. Isso se verifica em todas as formas de inter-relação social; seja no exercício profissional através do qual a maioria mal sobrevive, seja na ascensão profissional do negro como sambista, pagodeiro, jogador de futebol, basquete, atletas de corridas de longa e média distância, salto triplo etc. como também na expressão da arte e na cultura de uma forma geral, aqui em pleno século XXI, ainda temos papéis definidos para o negro que de uma maneira geral já tem o seu papel pré-determinado seja num cartaz de publicidade, num out door, num simples cartaz de campanha natalina, num romance, numa novela ou na vida real. Em seus gráficos as estatísticas tupiniquins, expressam números elaborados consoante arquétipos de denominação e de definição racial de há muito bem conhecidos por todos nós. Não obstante esses aspectos aludidos, existem alguns fatores que dentro das pesquisas não conseguem de maneira alguma serem objeto de manipulação, porquanto sua natureza de ordem matemático-científica. Daí podermos através de sua utilização caracterizar e demarcar, que de fato ainda hoje temos um quadro de pouca ou nenhuma mudança. Isso se verifica claramente quando observamos dados econômico-sociais quanto ao exercício profissional do negro e sua consequente remuneração que em média é 40% (quarenta por cento), inferior aos chamados brancos; quando do acesso do negro aos bancos universitários que está na faixa de 5% (cinco), o que digamos é uma piada frente a uma população negra avaliada em cerca de 40% (quarenta por cento); na política que é digamos o palco onde o exercício de fato do poder e da articulação futura em que o mesmo se faz em maior profundidade e evidência, a inserção do negro passa quase desapercebida, não em qualidade, mas claramente devido o pouquíssimo número de irmãos negros que conseguem galgar um espaço no palco das discussões e decisões do nosso futuro como nação. Porquanto o exercício da nossa democracia formal impõe a equação lógica da quantidade e não da qualidade. Esse aspecto último é por demais desigual e danoso aos que pretendem através do seu exercício político criar condições objetivas na direção de uma nação menos desigual e menos injusta, visto que aqui se não vivemos um aparthaid-racial, claramente constatamos viver um aparthaid-social que coincidentemente atinge em sua grande maioria os negros.

Aqui ouvisse a boca pequena que não existe pré-conceito racial, mas tão somente apenas preconceito social. Evidentemente trata-se de mais um dos muitos mitos amalgamados ao longo do tempo e da nossa cultura do jeitinho e do bom mocismo tão característico no âmbito das nossas relações inter-raciais. Visto que esse mito se desfaz qual um castelo de cartas frente a uma realidade prática que enuncia claramente, tolerar o irmão negro quando nos convém e preterirmos sempre que possível. A demanda fática que acabamos de falar se verifica claramente quando, por exemplo: da disputa de uma vaga num emprego em que os dois profissionais tenham o mesmo currículo, a mesma capacidade e as mesmas aptidões profissionais e se verifica que um é negro e outro é definido como cidadão branco, no mais das vezes a escolha recai inevitavelmente em relação ao futuro funcionário branco; na compra de um apartamento em um condomínio digamos de alto luxo, em sendo a disputa feita por um negro e um branco no caso de um apartamento e tendo os dois as mesmas condições econômicas, quase que inevitavelmente aquele será preterido em favor deste; na arquitetura desse mesmo apartamento temos também o devido exercício da nossa já famosa “criatividade” excludente, com o seu não menos famoso elevador de serviço que coincidentemente é no mais das vezes objeto de uso “exclusivo” dos negros, ficando o elevador “social”, claro, para os chamados senhores brancos; na blitz de trânsito acontece e constata-se tão comumente, que já se tornou de certa forma folclore, visto que até prova em contrário, subtende-se que negro em volante de carro e, sobretudo de carro de luxo ou é motorista ou é ladrão.

Com isso, cabe a todos nós refletirmos minimamente que não basta avançarmos na direção de uma igualdade econômica e social na resolução de tão importante e delicada questão. Precisamos isso sim, através de uma gradativa mudança também de modos, costumes e cultura no âmbito das inter-relações sociais, culturais e inter-raciais. Tentar-mos inserir em nossa agenda de MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES, o mínimo que seja de uma nova e revigorada visão transformadora, na qual o negro também seja ouvido e se transforme não apenas em figurante, mas sim protagonista das muitas alas das muitas escolas de samba, educação e pedagogia de uma nova nação que se assuma como tal com eqüidade, altivez e originalidade.

 

FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.

ADVOGADO – OAB/RN. 7318.

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