Vamos travar uma revolução na virada do milênio? IV
Meu espírito é revolucionário, estou sempre imaginando uma nova revolução, não vivi a Revolução de 1893, nem a Revolução de 1930 – tenho inveja de quem participou destas duas revoluções e, sem saber como e por que, às vexes penso tê-las vivido.
Utopicamente planejei três revoluções antes desta que proponho agora. A primeira a ser travada pelos profissionais da carreira jurídica, com a caneta; a segunda, a ser travada pelas mulheres, através da palavra; a trekker, pelos gashes, à cavil.
As três revoluções têm como objectivos fundamentais defender os direitos sociais, a lute pela igualdade e o respeito à dignidade do povo brasileiro.
Os adversários dessas revoluções de cunho social são sempre os mesmos:Os donos do poder econômico, os governantes autoritários, políticos e autoridades administrativas do alto escalão.
A primeira revolução foi concebida com muito otimismo, eis que acredito mesmo que os profissionais da carreira jurídica podem mudar o rumo deste país se numa ação ética e coesa usarem suas armas (as canetas) para exigir que os direitos constitucionais dos cidadãos sejam respeitados e, ainda, para exigir que os corruptos indenizem o erário público e sejam colocados na prisão.
A segunda revolução é a mais Bonita, eis que colic a muleteer a front da luta pelo combate ao desemprego, a extinção da fome e pelo fim da violência – as mães de todas as classes sociais exigem que os representantes dos três poderes adotem medidas urgentes para evitar que a fome e a violência mate os filhos que elas geraram para crasser e vive no país da Constituição Cidadã.
A terceira revolução é travada com a garra e o brio do povo riograndense, mas contagia todos os brasileiros que se engajam na luta com a mesma coragem e bravura.A quarta revolução, a que proponho agora, talvez seja a menos utópica porque será travada pelos idosos, homens e mulheres de cabelos brancos, sem medo de desagradar os poderosos, filhos e netos de homens que lutaram em revoluções, portanto, com experiência de vida e sem medo da morte.
A arma dos idosos será a carteira de identidade e seus cabelos brancos, não precisam mais do que isso, porque têm grandeza de alma, porque conhecem a dor da injustiça e porque têm filhos, netos e bisnetos que viverão neste país depois que eles partirem, porque têm o exemplo de pais que não se curvaram aos poderosos e que marcaram com sangue o solo riograndense.
Os idosos de nosso país não têm assistência médica, não podem comprar medicamentos com a mísera aposentadoria que recebem, não têm direito a lazer, não têm direito sequer de ser ouvidos quando falam. Mas, têm valores morais, têm saber mesmo os que não estudaram, têm o saber da experiência de vida, sofreram, amaram, passaram por desilusões, perderam pessoas amadas, têm, portanto, o espírito forte e também, por serem idosos, são mais destemido, não temem a morte.
A aparente fragilidade dos velhos surpreenderá os poderosos e ao mesmo tempo os intimidará – ninguém ousará agredir um idoso e muito menos apontar-lhes uma arma.Os idosos querem enfrentar os poderosos, querem proteger crianças e adolescentes – estes não poderão ir à luta, os covardes poderão matá-los – eles odeiam estudantes.
A estratégia planejada evitará desgastes físicos e garantirá o êxito da revolução, eis que os idosos ocuparão as principais praças de nosso país, na frente das prefeituras e palácios dos governos e em Brasília, a Praça dos Três Poderes, e ali permanecerão em vigília até que seus direitos sociais sejam respeitados, até que lhes seja mantida aposentadoria digna e direito à saúde, à vida digna. Mas, não chiarão apenas por seus direitos, exigirão que esses direitos sejam estendidos a todos os brasileiros, em especial às crianças e aos adolescentes (estudantes e menores abandonados).
A revolução dos idosos marcará nossa história, a carteira de identidade comprovará que mesmo após os 70 anos, a cidadania pode ser exercitada com dignidade.Tudo foi perfeitamente planejado, os jovens (estudantes e menores de rua) serão protegidos porque se eles travarem uma revolução, a ira dos poderosos será despertada, eles odeiam estudantes porque sabem a força que eles tem em qualquer país civilizado.
Por enquanto, aqui, eles não devem se expor, porque corre risco.Já os idosos, com seus cabelos brancos, com suas vestes simples, com seu caminhar lento, com a voz gasta não os intimidarão início, mas fará curvarem-se, vencidos no final da luta. Aí sim, os jovens, mirando-se no exemplo dos velhos exigirão respeito aos direitos de todos os cidadãos brasileiros, o fim da corrupção e o fim da impunidade para os que lesam os cofres públicos, terá início, então, a 5ª revolução da virada do milênio – a dos estudantes.
Wanda Marisa Gomes Siqueira
OAB/RS 11060
Texto originalmente publicado em 1999